Perdidos e achados

Eu me mudei. Mudei de casa. Na verdade sai de uma casa e fui para um apartamento. O espaço diminuiu, não há tantos armários e cantos mortos para eu continuar com meu amontado de objetos juntando poeira. Assim, tive que me desfazer de cartas, de fotos, e pequenos tesouros. Como uma moeda que achei uma vez quando era criança no ginásio do colégio que estudava. Era uma moeda diferente, nunca soube de quem ou de onde era – tinha um aspecto antigo. Me lembro que fiquei muito encantada com ela e guardei. Não sei por que, nunca tive curiosidade de procurar saber de onde viera, mas guardei. E continuei guardando durante anos apenas por hábito.

Hoje a encontrei e me perguntei por que a vinha carregando durante tantos anos? Não tive resposta. A mesma coisa com recortes de revistas, cartas, fotos, objetos que me remetiam a uma lembrança, mas uma lembrança vazia. Peso morto, coisas que no passado eu deveria ter olhado, admirado, e deixado no mesmo lugar. Quem sabe não poderiam ter tido um papel mais importante na vida de outra pessoa senão o fundo empoeirado da minha caixa de sapatos? Talvez esse seja meu desafio daqui por diante: saber identificar aquilo que realmente me pertence.

Entrevista com Camila Klein

CK                Na última quinta-feira (correção: dia 20 de setembro de 2012) o MONDO MODA conversou com Camila Klein durante a inauguração da sua nova loja na expansão do Galleria Shopping. A designer, que está há 12 anos no mercado, agora se expande para além da fronteira nacional. Integrando o cardápio da Swarovski Crystallized – rede de lojas da própria marca de cristais que promove os melhores designers que trabalham com seus produtos – apresentará no mês que vem uma vitrine montada com suas criações em todas as lojas ao redor do mundo (que infelizmente ainda não chegou ao Brasil). Junto com a vitrine, também será capa da revista Swarovski Elements. Com todas essas novidades, ainda há um projeto que o Mondo Moda conta com exclusividade – e que para saber, basta ler a entrevista a seguir, onde ela conta também um pouco da sua coleção atual e da relação com a cidade.

Conte-nos um pouco sobre essa coleção que o público vai encontrar aqui na loja.

Essa coleção tem uma preocupação em atender todos os tipos de mulheres – independente da idade que elas tenham ou do seu estilo. E o bacana é que tem diversas linhas: uma é toda metalizada, com elásticos, ao mesmo tempo em que a outra é uma linha de pérolas, mas sem perder a identidade da marca.

Qual sua expectativa em relação ao público de Campinas?

Nós chegamos aqui através do nosso e-commerce, onde vendemos muito para o pessoal daqui. E achamos curioso o fato de muitas das mulheres que procuravam a gente pelo cadastro de clientes da loja virtual eram dessa região. Então vimos que já tinha uma clientela formada. A mulher de Campinas já é nossa cliente, só que através de outros lugares – pelo site, pelas multimarcas que trabalham com a gente, e mesmo clientes que compravam em São Paulo. Você vê: hoje a loja tá lotada! A gente foi super bem recebido.

Você já conhecia a cidade?

Sim, desde pequena eu frequento aqui. Eu tinha uma casa em um condomínio aqui perto, e vinha nesse shopping quando criança. É curioso até! Porque eu nunca imaginei que fosse ter minha própria marca e abrir uma loja aqui.

Sabemos dos planos sobre abrir uma loja em Nova York. Como vai o projeto?

Nossa! Como você sabe disso? [risos] É, a gente tá com o projeto dessa loja, mas ainda temos que achar o ponto certo para atender nossa marca e se tudo der certo nó vamos abrir sim. Se acharmos o local certo ainda esse ano, provavelmente no primeiro semestre do ano que vem nós inauguramos.

Janela

Você chegou assim, na manhã de um dia atrapalhado de uma semana corrida. Contrariando tudo, abriu uma janela que deixou entrar um tanto de ar que até perdi o rumo:

– Tá de palhaçada?! – perguntei sem fazer a menor questão de ser simpática.

Então fizemos o caminho inverso: já tínhamos um punhado de fotografias nas mãos, sem lembranças para recordar. E daí? Das fotografias construímos lembranças. Lembranças de conversas de madrugadas inteiras. Porém dos encontros sempre rápidos demais, sob centenas olhares, a gente fingia muito bem – mesmo que por dentro sufocasse um grito.

E daí que o tempo passa. E a vida, descontrolada, faz e acontece do jeito que ela quer. Mas sempre vem a calmaria e a gente se procura, tateando no escuro, lançando sentenças para o breu esperando uma resposta compatível. E ela sempre vem:

– Sim, eu também.

Ainda não me recuperei daquela lufada de ar. Me sinto zonza, do tipo que escuta mas não ouve. Você, na sua paciência sem fim, diz as mesmas coisas repetidas vezes. Enquanto eu (tonta!), aceito e esqueço. Mas deixa. Deixa eu deixar por não dito. Tenho medo de parecer ridícula com as minhas palavras. Por isso finjo que esqueço só pra te ouvir de novo. E nesse jogo consigo te guardar no bolso do meu jeans surrado, onde o tempo não tem vez.

Lembrete

Não esquecer de fazer, não esquecer de comprar, não esquecer de lembrar de pedir. Não esquecer de pôr o despertador pra despertar, de fazer xixi quando acordar, de apagar a luz ao sair, de tomar o café para trabalhar.

Não esquecer o horário do ônibus, de encher o estômago, passear com o cachorro, buscar o rebento, ajudar o amigo, fazer um carinho, ser agradável. Não esquecer de marcar o horário do pediatra, do dentista, do ginecologista, do dermatologista, do massagista.

Não esquecer de carregar as baterias, de checar os e-mails, ver se tem leite. Não esquecer da mãe que tá carente, do pai ausente, da avó que viaja, dos primos que estão longe.

Não esquecer de fazer planos, checar o preço das passagens, olhar no relógio, voltar para casa, tomar um banho, estudar.

Na correria de todo dia e no exercício de lembrar, o tempo passa e nem percebo. Não me lembro de ter visto a chuva, de ter visto pessoas, de ter reparado em algum outro detalhe que não fossem as tarefas cotidianas.

Quando vou dormir, vejo que não arrumei a cama e me sentindo culpada lembro daquilo que me fez esquecer do ritual de levantar e esticar lençóis. E mesmo de olhos fechados, já começo a lembrar de não esquecer de comprar o pão, deixar a chave de baixo do tapete, o bilhete pra faxineira…

Entrevista com Alexandre Herchcovitch

Entrevista publicada no blog Mondo Moda em 22/06/2012.

Na quarta-feira, 20 de junho, o Senac Campinas recebeu o estilista Alexandre Herchcovitch para uma palestra aberta durante o evento Tempo e Criação – uma semana dedicada a debates sobre processos criativos.

O estilista, que começou sua trajetória no início dos anos 90, contribuiu para o que configura hoje o cenário da moda brasileira.

Temas como o futuro dos profissionais de moda, a elaboração das coleções, e o trabalho em equipe foram debatidos. Mas antes, Alexandre concedeu uma entrevista exclusiva ao MONDO MODA.
Em relação ao mercado internacional, como é o interesse dos estrangeiros em relação à moda Brasileira?
Eu acho que eles procuram por um produto interessante, não importa de onde ele venha. O Brasil, pelo menos no começo, era um dado interessante pra eles. Quando eu comecei a sair do país para apresentar minhas criações em 1996, especialmente os jornalistas tinham muita curiosidade sobre a moda no Brasil. Mas hoje, como a moda está completamente globalizada e todo mundo tem acesso às roupas do mundo inteiro, então se tornou um dado irrelevante. O mais importante é o trabalho, são as roupas, a qualidade.
Você concorda que dos anos 90, quando começaram as semanas de moda, até hoje houve um salto na evolução desse mercado no Brasil? Afinal, não temos uma tradição como a moda francesa ou inglesa…
Não, não tem. Ainda não tem. Mas também não acho que esteja se criando. Eu acho que é óbvio, quando vários estilistas estão fazendo moda aqui, de alguma forma acabam formatando uma cara. A moda brasileira, e também dos outros países, não há como distinguir de onde ela é. Você não pega uma roupa do Yves Saint Laurent e diz que é uma moda autenticamente francesa. Cada vez mais a moda tá pra todo mundo, menos setorizada, menos com a cara de um país.
Em maio conversamos com Eduardo Pombal, da Tufi Duek, e ele disse que algo que o incomoda hoje é a disseminação muito rápida da informação do desfile e, em consequência, as reproduções que esgotam a ideia antes da coleção chegar às lojas. Você se sente prejudicado com isso?
Bom, as marcas brasileiras fazem isso com as marcas internacionais. Não sei por que ele reclamou, sinceramente. Do mesmo jeito que ele reclamou que a notícia se espalha no minuto seguinte ao desfile, ou no minuto do desfile, pois muitas pessoas estão assistindo e postando nas redes sociais com um atraso de no máximo 30 segundos, isso acontece também com marcas brasileiras em relação a estilistas de fora. Então eu acho que você tem que estar preparado para criar uma coisa cada vez mais autêntica, mais difícil de ser copiada. Mas eu não me incomodo que no minuto que eu apresente minha coleção ela seja divulgada.
Mas já aconteceu de você encontrar nas araras de uma fast fashion uma peça cópia da sua?
Várias vezes. Eu compro essas peças.
Por quê?
Eu acho interessante ter isso. Por exemplo, eu tenho algumas peças da Topshop que foram literalmente copiadas do meu desfile. E comprei. Tenho lá guardado, arquivado.
E você não se incomoda que copiem suas criações?
De jeito nenhum. Já me incomodei muito, mas hoje não mais. Acho que minha roupa é muito difícil de ser copiada. Muito difícil. Eu nem aconselho copiarem minha roupa que não seja da parte mais comercial, que tem as camisetas e tudo mais que são mais fáceis de serem copiadas.
Sobre os produtos licenciados, a sua renda hoje vem mais daí?
Sim, hoje o faturamento da marca é maior na área de licenciados do que na de varejo. Também, lojas próprias só têm duas. E os produtos licenciados são vendidos em centenas de pontos de vendas, dependendo de cada licenciado. São 20 contratos de licenciamento, temos mais de 1200 produtos a venda a cada semestre. Hoje fazemos móvel, uma linha de home wear, utensílios para a casa, sapatos, óculos, uma infinidade de coisas. Então mais que claro que o faturamento vindo dos licenciados é maior do que o vindo das roupas.