Entrevista com Alexandre Herchcovitch

Entrevista publicada no blog Mondo Moda em 22/06/2012.

Na quarta-feira, 20 de junho, o Senac Campinas recebeu o estilista Alexandre Herchcovitch para uma palestra aberta durante o evento Tempo e Criação – uma semana dedicada a debates sobre processos criativos.

O estilista, que começou sua trajetória no início dos anos 90, contribuiu para o que configura hoje o cenário da moda brasileira.

Temas como o futuro dos profissionais de moda, a elaboração das coleções, e o trabalho em equipe foram debatidos. Mas antes, Alexandre concedeu uma entrevista exclusiva ao MONDO MODA.
Em relação ao mercado internacional, como é o interesse dos estrangeiros em relação à moda Brasileira?
Eu acho que eles procuram por um produto interessante, não importa de onde ele venha. O Brasil, pelo menos no começo, era um dado interessante pra eles. Quando eu comecei a sair do país para apresentar minhas criações em 1996, especialmente os jornalistas tinham muita curiosidade sobre a moda no Brasil. Mas hoje, como a moda está completamente globalizada e todo mundo tem acesso às roupas do mundo inteiro, então se tornou um dado irrelevante. O mais importante é o trabalho, são as roupas, a qualidade.
Você concorda que dos anos 90, quando começaram as semanas de moda, até hoje houve um salto na evolução desse mercado no Brasil? Afinal, não temos uma tradição como a moda francesa ou inglesa…
Não, não tem. Ainda não tem. Mas também não acho que esteja se criando. Eu acho que é óbvio, quando vários estilistas estão fazendo moda aqui, de alguma forma acabam formatando uma cara. A moda brasileira, e também dos outros países, não há como distinguir de onde ela é. Você não pega uma roupa do Yves Saint Laurent e diz que é uma moda autenticamente francesa. Cada vez mais a moda tá pra todo mundo, menos setorizada, menos com a cara de um país.
Em maio conversamos com Eduardo Pombal, da Tufi Duek, e ele disse que algo que o incomoda hoje é a disseminação muito rápida da informação do desfile e, em consequência, as reproduções que esgotam a ideia antes da coleção chegar às lojas. Você se sente prejudicado com isso?
Bom, as marcas brasileiras fazem isso com as marcas internacionais. Não sei por que ele reclamou, sinceramente. Do mesmo jeito que ele reclamou que a notícia se espalha no minuto seguinte ao desfile, ou no minuto do desfile, pois muitas pessoas estão assistindo e postando nas redes sociais com um atraso de no máximo 30 segundos, isso acontece também com marcas brasileiras em relação a estilistas de fora. Então eu acho que você tem que estar preparado para criar uma coisa cada vez mais autêntica, mais difícil de ser copiada. Mas eu não me incomodo que no minuto que eu apresente minha coleção ela seja divulgada.
Mas já aconteceu de você encontrar nas araras de uma fast fashion uma peça cópia da sua?
Várias vezes. Eu compro essas peças.
Por quê?
Eu acho interessante ter isso. Por exemplo, eu tenho algumas peças da Topshop que foram literalmente copiadas do meu desfile. E comprei. Tenho lá guardado, arquivado.
E você não se incomoda que copiem suas criações?
De jeito nenhum. Já me incomodei muito, mas hoje não mais. Acho que minha roupa é muito difícil de ser copiada. Muito difícil. Eu nem aconselho copiarem minha roupa que não seja da parte mais comercial, que tem as camisetas e tudo mais que são mais fáceis de serem copiadas.
Sobre os produtos licenciados, a sua renda hoje vem mais daí?
Sim, hoje o faturamento da marca é maior na área de licenciados do que na de varejo. Também, lojas próprias só têm duas. E os produtos licenciados são vendidos em centenas de pontos de vendas, dependendo de cada licenciado. São 20 contratos de licenciamento, temos mais de 1200 produtos a venda a cada semestre. Hoje fazemos móvel, uma linha de home wear, utensílios para a casa, sapatos, óculos, uma infinidade de coisas. Então mais que claro que o faturamento vindo dos licenciados é maior do que o vindo das roupas.

Editorial: Junho 2012 – Revista Residenciais

Título: Paraísos Artificiais
Editor de Estilo: Jorge Marcelo Oliveira
Fotógrafo: Touché
Beleza: Tandi Steinle
Modelos: Isabela Covolan (Cdabliu Group)
Tratamento de Imagens: Gabi Perissinotto
Assistentes de Produção de Moda: Júlia Magalhães e Mariana Nogueira
Assistente de Fotografia: Diana Negrini
Agradecimentos: Colcci, Ellus, Forum, My Shoes, New Order e O Boticário.